Disputando uma final acirrada com a Espanha, a Seleção Inglesa foi competitiva e ofereceu enorme resistência para a maior campeã desse torneio, mas acabou derrotada por 2-1, indo para casa com mais um vice-campeonato
A Seleção Inglesa desembarcou na Alemanha como uma das favoritas ao título, trazendo consigo um elenco recheado de talento a ponto de competir de igual para igual com qualquer país.
Além disso, se tratava de um grupo, embora com alguns ajustes, que já vinha de bons resultados em grandes torneios, finalista na última edição da Euro, na qual foi derrotada em casa pela Itália.
Em um retrato com as duas eventuais finalistas antes do início desta competição, era a Inglaterra que apresentava cotações mais favoráveis na disputa pelo título. Contudo, a prévia da decisão trouxe um favoritismo para o lado espanhol, que acabou se materializando em campo, não só pelo resultado, mas pelo modo como o jogo se desenrolou.
Essa mudança de panorama ocorreu durante a competição, muito pelo futebol disputado pela Espanha e por o que a Inglaterra não conseguiu apresentar.
Os comandados de Luis De La Fuente realizaram uma campanha irretocável. A Espanha se tornou a primeira campeã da Euro com sete vitórias e derrotando três campeãs mundiais no seu caminho.
A Inglaterra chegou a mais uma final, é bem verdade, mas seguiu em vários momentos na competição aos trancos e barrancos, muitas vezes se apoiando na superação, arrancando resultados quando a organização inicial já tinha ido para o espaço, caso do confronto das oitavas contra a Eslováquia.
Essa trajetória do English Team pode ser usada para ilustrar um dos melhores pontos do trabalho de Gareth Southgate, a resiliência de um plantel jovem, quando outrora essa seleção sucumbiu com mais facilidade no primeiro sinal de problema.
Contudo, no que se trata de desempenho, a Inglaterra passou longe de ser aquilo que se esperava de um país contando com Phil Foden, Harry, Kane, Jude Bellingham e tantas outras estrelas.
Mesmo tendo o benefício de um caminho sem o nível de dificuldade que a Espanha enfrentou tanto na fase de grupos quanto nos duelos eliminatórios, a Inglaterra em nenhum momento exerceu o domínio que dela era esperado.
Muitas vezes o resultado no futebol, especialmente em torneios curtos com margens tão finas entre o sucesso e o fracasso, acaba tomando controle da narrativa. Certamente, caso houvesse sido campeã, a Inglaterra magnificaria os pontos positivos que trouxe ao longo da competição e os pontos negativos seriam, se não esquecidos, ao menos ofuscados.
Contudo, o roteiro da final contra a Espanha trouxe mais daquilo que se viu desde a fase de grupos e talvez a atuação de Jude Bellingham exemplifique bem este cenário.
O meia do Real Madrid fez um grande jogo, possivelmente o melhor em campo de sua seleção, mas em diversos momentos os seus esforços eram muito mais do individual, prevalecendo em meio a um coletivo que encontra dificuldades. Bellingham brigou muito defensivamente, ganhou duelos, deu a assistência para o gol inglês, mas raramente pôde fazer parte de longas tramas de sucesso.
Enquanto a Seleção Espanhola apresentava mecanismos para escapar de uma pressão e sufocar seu oponente quando não tinha a bola, a Inglaterra não conseguia sair bem de trás e rotineiramente recorria à bola longa.
Um jogo mais direto pode ser bem executado e dar frutos, mas a Inglaterra não foi bem pelo ar, vencendo apenas 10 de 23 duelos aéreos. Harry Kane decepcionou entre outros pontos também nesse quesito, a ponto de ser o primeiro substituído com a entrada de Ollie Watkins, herói da semifinal.
O trabalho de Gareth Southgate trouxe um bom recorte para avaliação com a disputa de quatro grandes torneios. Além de vários fatores que vão além das quatro linhas, o simples fato dos resultados de forma geral terem crescido neste período deve ser enaltecido.
Na Euro mais recente antes de Southgate a Inglaterra havia sido eliminada pela Islândia e no último mundial antes desse período sequer saiu da fase de grupos.
Independentemente do quanto isso passa pela evolução em qualidade no elenco, sob o comando de Southgate o English Team foi a duas finais de Euro, uma semifinal de Copa e no seu pior desempenho fez grande jogo contra a França nas quartas em 2022.
Entre os destaques se observa o crescimento e um poder de reação que ficou muito claro na atual competição, mas, ao mesmo tempo, não se pode ignorar os problemas encontrados.
O que é retratado como resiliência na atual competição também pode ser olhado como ineficácia em exercer o seu domínio diante de seleções inferiores tecnicamente, mas bem organizadas.
Nas últimas competições, a Inglaterra tem sucumbindo quando encara um oponente relativamente perto ou no seu nível no que se trata de qualidade de jogadores. A vitória na semifinal foi emblemática, mas mesmo a Holanda, uma campeã da Euro e com bastante tradição, não chegou na atual edição ocupando a lista de favoritas.
A relação desempenho e resultado é um ponto discutido com bastante frequência, mas a questão é que quanto melhor o desempenho, mais próximo se fica do resultado.
Mesmo seleções extremamente qualificadas, assim como o caso da Inglaterra, se o desempenho deixa a desejar, em certo ponto a conta irá chegar. Individualidades e ajustes pontuais podem te levar bem longe, mas nem sempre serão o suficiente.
Pouco tempo após o vice-campeonato em Berlim, Southgate anunciou que não segue no comando da Inglaterra. O treinador de 53 anos estava no seu último ano de contrato e deixará a Inglaterra procurando um novo treinador pela primeira vez em oito anos.
Ainda é cedo para determinar qual será o alvo principal da Federação Inglesa, mas possuindo um dos elencos mais talentosos do futebol mundial, o English Team certamente irá atrair grandes candidatos ao cargo.