O mais emblemático jogador dos «cafeteros» mostrou que pode ser útil a essa nova (e forte) seleção.
Em pouco mais de um ano à frente da Colômbia, Néstor Lorenzo conseguiu fazer com que a seleção voltasse a ser uma das melhores na América do Sul. E, embora muito desse sucesso tenha sido obtido sem James Rodríguez, o treinador argentino mostrou que não pretende abrir mão do eterno camisa 10.
Entre um argentino e outro
Não devem ser poucos os que consideram José Pekerman o maior técnico da história da Colômbia. Com o lendário argentino, os tricolores se classificaram a duas Copas do Mundo e chegaram pela primeira vez às quartas de final (em Brasil 2014, quando perderam para os anfitriões).
Pekerman se despediu após Rússia 2018, e em fevereiro de 2019 veio Carlos Queiroz. A trajetória do português terminou após um 6 x 1 para o Equador, em novembro de 2020. Deu-se então o retorno de Reinaldo Rueda, que não conseguiu classificar a equipe para Catar 2022.
Em setembro do ano passado, a Federación Colombiana de Fútbol (FCF) optou novamente por um argentino: Néstor Lorenzo. O bonaerense tinha pelo menos alguma ideia de onde estava pisando, visto que foi auxiliar de Pekerman nos seis anos em que o entrerriano comandou a Colômbia.
Mas mesmo essa familiaridade com o futebol local não basta para explicar o bom desempenho dos renovados cafeteros. Foram doze partidas e nenhuma derrota, e entre as oito vitórias encontramos um 2 x 1 sobre o Japão em Osaka e um 2 x 0 sobre a Alemanha em Gelsenkirchen.
Sem espaço para o dez
O triunfo sobre os tedescos foi o segundo amistoso realizado pelos colombianos na Data FIFA de junho. (Quatro dias antes, eles haviam vencido por 1 x 0 o Iraque na cidade espanhola de Valência.) Para essas partidas Lorenzo não convocou James Rodríguez, que havia rescindido com os gregos do Olympiacos e não entrava em campo desde 9 de abril.
Em julho, pouco após completar 32 anos, o meia acertou com o São Paulo. Sua estreia pelo tricolor do Morumbi se deu em 13 de agosto, e ele ainda não tinha conseguido muitos minutos sob o comando de Dorival Júnior quando Lorenzo o convocou para os dois primeiros compromissos pelas Eliminatórias do Mundial 2026, nos dias 7 e 12 de setembro.
Havia expectativa quanto à sua presença entre os titulares na estreia, em casa, contra a Venezuela; mas o treinador argentino deixou-o no banco e escalou o mesmo time que derrotou a Alemanha. A entrada de James aos 75 minutos da vitória por 1 x 0 sobre a vinotinto alimentou as esperanças dos que queriam vê-lo no onze inicial na rodada seguinte.
Lorenzo realizou uma mudança no meio de campo para a visita ao Chile, mas foi Jorge Carrascal quem ganhou a vaga de Juan Cuadrado. James entrou aos 58 minutos do empate por 0 x 0 com a roja, e parecia candidato a reassumir a titularidade nos cafeteros assim que se firmasse por seu novo clube. Mas o problema era justamente esse.
Em 17 e 24 de setembro houve as finais da Copa do Brasil, e o São Paulo foi campeão tendo James como suplente não utilizado tanto na ida quanto na volta. Faltava-lhe ritmo de jogo desde sua chegada ao futebol brasileiro, portanto; mas engana-se quem pensa que as suas suplências também na seleção colombiana eram apenas uma questão física.
Tratava-se ainda de uma questão tática: os cafeteros jogavam num 4-3-3 em que não parecia haver espaço para um «camisa 10». Se fizesse questão de ter um atleta para cumprir esse papel, Néstor Lorenzo poderia ter escalado vez ou outra Juan Quintero. Este, embora fosse titular no Racing, tampouco vinha sendo uma das principais opções na Colômbia.
Uma solução surpreendente
James Rodríguez foi convocado para as rodadas seguintes das eliminatórias, em 12 e 17 de outubro. Suas chances de começar jogando na recepção ao Uruguai pareciam pequenas; no entanto, foi o que ocorreu. Lorenzo manteve o 4-3-3 e posicionou o seu camisa 10 mais como um atacante do que como um meio-campista.
A escalação apresentada pela FCF em seu perfil no X (o antigo Twitter) mostrava James como ponta-direita, Luis Díaz como ponta-esquerda e Rafael Santos Borré como centroavante; mas no entendimento de Pablo Romero, do jornal El Tiempo, o que se viu foi Borré jogando muito mais aberto pela direita e James jogando como um «falso 9».
Naquele 2 x 2 com a celeste em Barranquilla, o meia do São Paulo marcou um gol e foi amplamente considerado o melhor em campo. Na rodada seguinte, contra o Equador, de novo James foi um dos três homens mais avançados junto de Díaz e Borré e de novo foi muito elogiado na imprensa (ainda que o encontro tenha terminado 0 x 0).
O futuro enfim lhe sorri
Quatro dias após jogar os noventa minutos da partida em Quito, James realizou sua atuação mais destacada desde que chegou ao Brasil. Pela 28.ª rodada da Série A, ele não só foi titular como conseguiu duas assistências no 3 x 0 do São Paulo sobre o Grêmio no Morumbi.
Curiosamente, ele mesmo reconheceu que não se encontrava ainda na forma física ideal. Isso não impediu Eduardo Rodrigues (ge) de opinar em sua análise daquele jogo que Dorival Júnior precisaria encontrar uma maneira de encaixar o camisa 19 entre os titulares do clube da fé.
James concorre com Luciano por uma vaga na equipe de Dorival. Das três partidas seguintes à vitória sobre o tricolor dos pampas, o colombiano foi titular em duas. Mas na mais recente Luciano o substituiu aos 57 minutos e, aos 84, marcou o único gol do triunfo sobre o Cruzeiro em casa.
Por aí se vê que James Rodríguez, a despeito do que apresentou nas últimas semanas, não é hoje um nome indiscutível seja no São Paulo seja na Colômbia. Nessa luta por reafirmação, porém, ele conta com um trunfo: a boa vontade de quase todos os que amam o futebol romântico.