Adversários em mais uma decisão, rivais têm história de polêmicas, tabus e confusões no Estadual.
"A senhora não sabe o que é um Palmeiras e Corinthians"! Não há forma melhor de descrever o Derby Paulista que a frase de Lima Duarte no filme Boleiros. De geração em geração, torcedores dos dois clubes viveram momentos especiais ao longo das décadas. A partir deste fim de semana, terão mais um, na final do Paulistão 2025.
Escolhemos seis jogos históricos entre eles no Estadual para relembrar.
1954 - Corinthians 1 x 1 Palmeiras
O título paulista de 1954 tinha um significado especial por marcar o Quarto Centenário da cidade de São Paulo. Com um time que reunia alguns dos maiores ídolos de sua história, como Baltazar, Cláudio e Luizinho, o Corinthians chegou como líder à penúltima rodada do campeonato, disputado no sistema de pontos corridos.
A oportunidade do título seria contra o Palmeiras, que curiosamente não usou as camisas verdes, mas o azul celeste dos tempos de Palestra Itália, buscando atrair sorte.
O Corinthians só precisava do empate num Pacaembu lotado, mas os comandados de Oswaldo Brandão partiram para cima e saíram na frente logo aos 10 minutos, com Luizinho de cabeça. Nei empatou no início do segundo tempo e o Corinthians segurou a pressão palmeirense para ficar com o troféu.
Como já havia sido campeão em 1922, ano dos 100 anos da Independência do Brasil, o Corinthians passou a ser conhecido como "campeão dos centenários".
1974 - Palmeiras 1 x 0 Corinthians
O Corinthians vivia a expectativa de acabar com um jejum de títulos que já durava 20 anos. Venceu o primeiro turno, e seria campeão caso vencesse também o segundo. Mas o Palmeiras de lendas como Ademir da Guia, Dudu, Leivinha, Luís Pereira e Leão tinha outros planos, e com uma goleada de 4 a 1 sobre o rival garantiu que haveria a decisão do campeonato.
O empate por 1 a 1 no primeiro jogo manteve a disputa aberta, e os corintianos eram a maioria dos 120 mil torcedores no Morumbi para a finalíssima. Se o Palmeiras tinha seus craques, o Corinthians não ficava atrás, com Rivellino, Zé Maria, Vladimir e outras figuras históricas.
Aos 34 minutos do segundo tempo, Leivinha ajeitou de cabeça para Ronaldo, que concluiu para o gol - era o de mais um título para a geração que ficou para a história como a "Segunda Academia" e com o sabor especial de prolongar a agonia alvinegra.
1979 - Palmeiras 0 x 1 Corinthians
O peso do tabu já tinha ficado para trás com o histórico título de 1977. Dois anos depois, o Corinthians de Sócrates, Palhinha e Biro-Biro desafiava o Palmeiras comandado por Telê Santana, na época com um futebol considerado um dos melhores do país. Foi um campeonato marcado pela polêmica.
Na segunda fase, o presidente corintiano Vicente Matheus se negou a participar de uma rodada dupla em que enfrentaria a Ponte Preta e o Palmeiras o Guarani, alegando que o clube sairia prejudicado na divisão da renda. Seguiu-se um impasse que paralisou o campeonato por dois meses - Palmeiras e Guarani tinham de disputar a Taça de Ouro, equivalente ao Brasileirão da época - e recomeçasse apenas em janeiro de 1980.
Palhinha fez o gol alvinegro no primeiro jogo, que terminou 1 a 1. Mais de 87 mil torcedores estiveram no Morumbi numa quarta-feira à noite, dia 30 de janeiro, para conhecer o classificado para a decisão. E o único gol da partida se tornaria icônico para a história corintiana: Biro-Biro, de canela. Foi o da vaga na final contra a Ponte Preta, em que o Corinthians se sagraria novamente campeão.
1993 - Palmeiras 4 x 0 Corinthians
Como nos anos 70, um dos rivais chegava à decisão com o peso de terminar um um longo jejum. O Palmeiras, que não era campeão desde 1976, estava no segundo ano de sua parceria com a Parmalat, que levou para o clube nomes de Seleção como Edmundo, Evair, Zinho e Antônio Carlos, sob o comando de Vanderlei Luxemburgo.
A final começou com vitória do Corinthians por 1 a 0, gol de Viola, que imitou um porco na comemoração. A provocação foi tema de debate durante toda a semana, e o troco viria com juros uma semana depois, com 104 mil pessoas no Morumbi.
Com um regulamento estranho, o campeonato previa que o saldo de gols não contava na final. Ou seja, se houvesse dois empates e cada time vencesse uma vez, o jogo iria para a prorrogação. Zinho fez 1 a 0 no primeiro tempo e, num segundo tempo nervoso, três jogadores foram expulsos: o zagueiro palmeirense Tonhão e, do lado corintiano, o goleiro Ronaldo e o zagueiro Henrique.
Com um a mais, o Palmeiras confirmou a vitória por 3 a 0 com Evair e Edílson, levando a decisão para o tempo extra. Se ninguém marcasse na prorrogação, o título já seria alviverde, mas Evair marcou de pênalti e não deixou qualquer dúvida: o tabu tinha terminado.
1999 - Corinthians 2 x 2 Palmeiras
Rincón, Vampeta, Ricardinho e Marcelinho. Torcedor do Corinthians que se preze é capaz de repetir aquele que é considerado por muitos o maior meio-campo da história do clube.
Na final de 1999, do outro lado estava o Palmeiras, que entre as duas partidas jogaria a final da Libertadores. O técnico Luiz Felipe Scolari decidiu preservar titulares no primeiro jogo, e o Corinthians se aproveitou para abrir uma ótima vantagem de 3 a 0, com gols de Edílson, Marcelinho e Dinei.
Para o segundo jogo da decisão paulista no Morumbi, o Palmeiras chegou com o título sul-americano no bolso, mas com uma grande vantagem para reverter - e ficou ainda maior com o gol de Marcelinho aos 34 minutos. Mas Evair virou o jogo ainda no primeiro tempo, dando novas esperanças à torcida alviverde.
A pá de cal veio aos 29 da segunda parte, quando Edílson fez o gol do 2 a 2. O que se viu a seguir entrou para a história do dérbi: o "Capetinha" começou a fazer embaixadas com a bola em jogo, Paulo Nunes e Júnior partiram para cima do adversário e deram origem a uma pancadaria generalizada, o que levou ao encerramento antecipado da decisão.
2015 - Corinthians 2 (5) x (6) Palmeiras
O ano de 2015 trazia novas esperanças ao palmeirense depois de anos sofríveis, com volta da Série B e quase um novo rebaixamento na temporada anterior. Mesmo assim, vencer o Corinthians na semifinal do Paulistão parecia improvável. O rival estava invicto na competição e ainda carregava um tabu de nove jogos sem perder no dérbi.
Os tempos de clássicos no Morumbi tinham ficado no passado: agora era cada um na sua casa, porém ainda com torcida visitante, ao contrário dos dias atuais.
O gol de Victor Ramos colocou o Palmeiras em vantagem logo aos 13 minutos, mas o Corinthians virou ainda no primeiro tempo com Danilo e Mendoza. Aos 29 do segundo, Dudu cruzou e Rafael Marques entrou de peixinho para levar a decisão para os pênaltis.
Após seis cobranças para cada lado, o placar ainda era de empate, mas Fernando Prass defendeu a cobrança de Petros e consolidou seu status de ídolo da torcida. O Palmeiras era o primeiro time a eliminar o Corinthians em sua nova Arena.