Os maiores mitos dos esportes foram estabelecidos a partir de contrastes — como no caso dos dois maiores tenistas dos anos 1990.
[Traduzido e adaptado de ''Tennis: quando la rivalità diventa leggenda, Sampras vs Agassi''.]
Há encontros e rivalidades esportivos destinados a ficar para sempre marcados na memória de seus espectadores. É como se não fosse possível inseri-los em determinado contexto histórico. É como se pertencessem a um presente sem começo nem fim.
Um dos exemplos de tal fenômeno é o dos ciclistas italianos Fausto Coppi e Gino Bartali, da lendária foto tirada em uma prova de 1952 na qual um passa uma garrafa para o outro — embora até hoje poucos saibam quem a passou para quem.
Falando agora de americanos, foram particularmente marcantes os enfrentamentos, no boxe, entre Muhammad Ali e Joe Frazier nos anos 1970 e, no basquete, entre o Boston Celtics de Larry Bird e o Los Angeles Lakers de Magic Johnson nos anos 1980.
No futebol falou-se muito de Pelé vs. Diego Maradona. Sendo os dois de gerações diferentes (o brasileiro atuou entre as décadas de 1950 e 1970, o argentino entre as de 1970 e 1990), este nos parece um caso mais midiático do que qualquer outra coisa.
Muito diferente foi a rivalidade que discutiremos mais a fundo a partir de agora. Pete Sampras e Andre Agassi foram dois tenistas que se enfrentaram diversas vezes, e, para a alegria dos que puderam acompanhá-los, seus encontros eram tudo menos banais.
O destino, como é de seu feitio, contribuiu para enriquecer essa história. Agassi e Sampras eram dois personagens bastante contrastantes, mas tinham pontos em comum para além dos recordes e vitórias que obtiveram.
É de notar que ambos provêm de famílias de imigrantes que chegaram aos Estados Unidos (a ''terra da oportunidade'', como se diz) em busca de fortuna — a qual, evidentemente, acabariam por encontrar.
Se você acredita no destino, a história de Pete Sampras — nascido Petros Sampras — provavelmente lhe convencerá ainda mais disso. Veremos abaixo dois momentos marcantes desse terceiro filho (de um total de quatro) de pai grego e mãe polonesa-judia.
Sampras tinha apenas 3 anos quando tropeçou em uma raquete de tênis no porão de sua casa, e começou a usá-la antes mesmo de entender para que ela servia. O segundo passo-chave para que se transformasse em um campeão foi a ida de sua família à Califórnia.
A importância de viver em Palos Altos foi o fato de este ser um lugar de clima mais quente do que o da sua cidade natal, Washington. Assim, Sampras pôde passar mais tempo ao ar livre para refinar aquela que se tornaria a sua arte.
Também Andre Agassi, como dissemos, nasceu em uma família de imigrantes. Seu pai foi um iraniano que chegou a competir nos Jogos Olímpicos como boxeador mas que também nutria uma paixão pelo tênis. Paixão essa que buscou transmitir ao filho.
Ressalte-se o ''buscou'' do parágrafo acima. Inicialmente, Agassi não desenvolveu esse mesmo interesse pelo esporte — justamente pela pressão do pai, que parecia querer vê-lo se tornar campeão a todo custo.
Aqui falamos novamente de destino. Porque o talento desse nativo de Las Vegas fez com que, aos 13 anos, ele impressionasse de tal maneira o técnico Nick Bollettieri que este lhe permitiu treinar de graça em sua Tennis Academy, na Flórida.
Temos, assim, de um lado ''Pistol Pete'', com seu agressivo e poderoso serviço e um forehand que poucas igualariam; do outro o ''Flipper'', com sua velocidade nos pés e nos pensamentos. Sorte nossa o destino (sempre ele) tê-los colocado frente a frente.
Os anos 1990 foram marcados, dentre outras coisas, pelo seu dualismo. No caso do tênis, isso se notou em uma rivalidade que, em quadra, se manifestou 34 vezes entre 1989 e 2002. A vantagem é de Sampras, que venceu 20 (isto é, 59%) de tais jogos.
Desses, os mais importantes foram, evidentemente, os de finais de Grand Slams. E também aqui ''Pistol Pete'' leva vantagem: em quatro das cinco vezes em que ambos decidiram um título de major, quem riu por último foi ele.
Era frequente (e esperado) que tais partidas exibissem um equilíbrio muito grande e momentos de tênis de alto nível. Um belo exemplo do que acabamos de dizer foi visto nas quartas de final do Aberto dos Estados Unidos de 2001.
Sampras venceu aquela partida por 3 sets a 1, parciais de 6/7(7/9), 7/6(7/2), 7/6(7/2) e 7/6(7/5). O detalhe a realçar quanto a esse duelo (e um dos motivos de ele ser tão lembrado) é que nenhum conseguiu quebrar o serviço do outro uma única vez.
Seus respectivos recordes já foram quebrados. Tanto Pete Sampras, com seus quatorze Grand Slams, quanto Andre Agassi, com seus dezessete Masters 1000, estão atrás de Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic nesses rankings.
Era de esperar que tais marcas fossem superadas, considerando o quão rentável é o tênis de alto nível. Mas, por mais que estejamos falando de tempos passados, a sensação é de que para esses dois tenistas americanos o tempo será sempre eterno.