Todo jogador de tênis profissional, não importa o quão talentoso tenha sido como júnior, começa o fundo da tabela e para subir tem de derrotar adversários de ranking superior.
No entanto, existem alguns atalhos como o sistema de wildcards, uma forma de alguns jovens talentosos conseguirem entrar em eventos dos quais seu ranking os excluiria, além de oferecer uma chance para que ex-astros que estiveram fora do circuito re-iniciem suas carreiras.
Um wildcard é um convite que permite a um jogador participar de um evento para o qual ele não se qualificaria com seu atual ranking.
Qualquer jogador que receba um wildcard dispensa o torneio classificatório e vai direto para o sorteio principal.
Cada evento reserva um determinado número de vagas para wildcards, sendo que os Grand Slams e os maiores eventos da ATP e da WTA permitem que até oito jogadores dos circuitos de simples masculino e feminino sejam beneficiados.
Cabe ao comitê organizador de cada evento decidir quem recebe os wildcards, sendo que os jogadores da mesma federação nacional que organiza o torneio geralmente são os primeiros da fila. Por exemplo, o All England Lawn Tennis and Croquet Club distribuiu cinco wildcards de simples masculino para jogadores britânicos em 2023 e três para tenistas estrangeiros.
A idade e o potencial de um jogador podem ser um fator crucial nessas decisões, com jovens talentos em ascensão quase sempre preferidos a jogadores mais experientes de classificação semelhante.
Jogadores consagrados retornando de lesões ou de pausas na carreira também são visados com frequência. Isso permite que eles voltem a subir na classificação muito mais rapidamente do que se tivessem que começar do zero novamente, sem pontos no ranking.
Lembramos que Goran Ivanisevic ficou famoso por vencer Wimbledon com um wildcard em 2001, e que estrelas atuais como Andrey Rublev, Denis Shapovalov, Felix Auger-Aliassime e Jannik Sinner, receberam wildcards para grandes eventos durante seus primeiros anos no circuito.
Os organizadores do torneio também veem com bons olhos os jogadores que tiveram sucesso em sua quadra no passado. O alemão Dustin Brown recebeu um wildcard para Wimbledon em 2016 após passar pela qualificação e eliminar o ex-campeão Rafael Nadal no SW19 no ano anterior.
No Aberto da França, os tenistas profissionais franceses recebem seis dos oito convites quer para o sorteio de simples masculino, quer feminino. O mesmo acontece com os jogadores dos Estados Unidos em Flushing Meadows, enquanto na Austrália são cinco os wildcards reservados para os tenistas nacionais.
Em Wimbledon, como o evento é organizado por um clube privado e não por uma federação nacional, a diversidade na distribuição de wildcards é maior, com mais jogadores estrangeiros convidados.
Algumas federações nacionais de tênis têm acordos em vigor pelos quais trocam wildcards para grandes eventos. Para os Grand Slams, a Associação de Tênis dos Estados Unidos, a Federação Francesa de Tênis e a Tennis Australia trocam um wildcard a cada ano, deixando a cargo da outra decidir qual de seus jogadores receberá a vaga.
A vitória de conto de fadas de Ivanisevic em Wimbledon, em 2001, não teria sido possível sem um wildcard, assim como o impressionante retorno de Kim Clijsters no US Open de 2009.
O croata foi três vezes finalista de Wimbledon, mas seus melhores dias pareciam ter ficado para trás devido à luta persistente com uma lesão no ombro. Ele estava bem fora do top 100 mundial antes do evento de 2001, mas não decepcionou os organizadores do torneio ao derrotar uma série de nomes famosos para vencer diante de uma multidão ao rubro.
Antes de sua vitória no US Open em 2009, a belga tinha estado afastada do circuito por dois anos, fazendo uma pausa para se casar e ter um filho.
Ela solicitou, e recebeu, wildcards para o Aberto de Cincinnati, o Aberto do Canadá e o Aberto dos Estados Unidos, derrotando três adversárias do Top-20 em Cincinnati e derrotando Victoria Azarenka, então número 9 do mundo, no Canadá.
A caminho da final em Flushing Meadows ela superou quer Venus, quer Serena Williams, antes de derrotar Carolina Wozniacki em sets diretos e se tornar a primeira mãe a ganhar um título de simples do Grand Slam desde Evonne Goolagong Cawley em 1980.